quinta-feira, 16 de julho de 2009

PONYO

“Susuke!!!.”


Ponyo, o mais recente filme de Miyazaki é belo. Seu encantamento ancora-se, sobretudo, na amizade entre a personagem principal e Susuke, seu amiguinho. Apesar de não surpreender do ponto de vista estético, o diretor resgata um pouco do universo de “A Pequena Sereia” (89) e, como sempre, faz uma obra de arte. Em se tratando do diretor, não surpreender não significa demérito algum, já que o mesmo se encontra em um patamar superior a qualquer animador ou estúdio de animação da atualidade. Mesmo singelo, o tratamento visual, sempre artesanal, ruma à perfeição.O filme traz a trajetória de Ponyo, uma peixinha vermelha que vive num reino encantado no fundo do mar. À beira do oceano, mora Susuke, um garoto de cinco anos, com sua madrasta Lisa. O pai, sempre ausente, é um marujo em alto-mar. Certo dia, Ponyo foge de casa e chama a atenção do pequeno Susuke, que a adota, leva-a a escola e passa a fazer parte de seu dia-a-dia. O pai de Ponyo, uma versão oriental de Poseidon, sai das profundezas do oceano, enfurecido, para resgatá-la.

De volta ao oceano, Susuke tenta encontrá-la em vão. Destemida, a peixinha rebela-se, foge, volta à superfície e transforma-se em uma menininha para ficar para sempre ao lado de seu Susuke. Aqui, Miyazake nos mostra, através de sua pequena grande Ponyo, como o idealismo rebelde de uma criança não deve ser uma exceção e sim a regra.

Com forte apelo ecológico - a urgente necessidade de equilíbrio entre o ser humano e a natureza – com a demonstração inequívoca de catástrofes - tsunamis surrealistas, que ameaçam o estado das coisas -, o filme mostra, através da amizade do par central, que o desejo e a força de vontade podem alterar o curso da vida das pessoas.

O uso desse tipo de fenômeno natural foi muito feliz, pois são rotineiros e podem acontecer a qualquer momento, em qualquer lugar. Assim como outras coisas na vida. Mas essa é apenas uma leitura que se pode ter ao assistir a Ponyo. Há outras. Mais complexas ou mais simples. Independentemente de qualquer reflexão que se faça, Ponyo comove pessoas de quaisquer faixas etárias. Sobretudo, porque, apesar de sua aparente complexidade, é um filme simples, dirigido por um adulto genial que com sua alma de criança consegue questionar os rumos da nossa sociedade.



Ponyo(Gake No Ue No Ponyo)
2008 – JAPÃO - 100 min. – Colorido – ANIMAÇÃO
Direção: HAYAO MIYAZAKI. Roteiro: HAYAO MIYAZAKI E MELISSA MATHISON. Fotografia: ATSUSHI OKUI. Montagem: HAYAO MIYAZAKI E TAKESHI SEYAMA. Música: JOE HISAISHI. Produção: HAYAO MIYAZAKI.

Elenco: YURIA NARA( Voz de Ponyo), HIROKI DOI (Voz de Sosuke), JÔJI TOKORU(Voz de Fujimoto), TOMOKO YAMAGUCHI (Voz de Risa), YUKI AMAMI (Voz de Guaranmamare) e KAZUSHIGE NAGASHIMA (Voz de Kôichi) .



Cenas do filme:



Assista também:




Meu Vizinho Totoro

segunda-feira, 6 de julho de 2009

DESENCANTO

“Ainda há tempo.”


Uma pequena grande jóia cuja história já deve ter sido escrita, lida, filmada e re-filmada diversas vezes. Desta vez, trata-se de uma peça em um ato, escrita e roteirizada por Noel Coward. É um drama intimista que aborda o breve, porém marcante, romance casual entre uma mulher e um homem, ambos casados. A maior parte da ação acontece numa estação de trem de uma pequena cidade inglesa, na qual os passageiros viajam a pequenas distâncias a trabalho ou passeio. Laura Jesson (Celia Johnson) é uma mulher comum, de classe média, dona de casa, mãe de dois filhos e aparentemente feliz, que se encontra casualmente com um médico, Alex (Trevor Howard), durante um dia em que vai às compras. O inocente e casual acontecimento, renovado a cada semana, vai-se transformando paulatinamente em uma forte afeição, que de certa forma choca e toma o casal de surpresa. Durante os breves encontros e as sutis trocas de palavras, colocam em xeque suas convenções e laços emocionais. Depois, cada um parte de volta para casa.

Obviamente há algumas fragilidades na história – a súbita afeição do casal acontece mais rapidamente do que as circunstâncias poderiam justificar. Também, a “cegueira” do marido de Laura, Fred (Cyril Raymond), é de um exagero incomum. Mas o conjunto é apresentado de forma delicada e afetuosa - com tanta naturalidade na caracterização de detalhes – que as discrepâncias acabam sendo permitidas.

Embora a experiência extraconjugal do casal não se consuma plenamente, a restrição a isso não é tão importante quanto aquela existente no campo emocional. Embora possa transparecer algum moralismo, isso não ocorre. Tudo é narrado em flashback, de forma bastante sensível pelo diretor David Lean.

A atriz Celia Johnson tem uma atuação memorável, como a dona de casa em crise existencial e emocionalmente abalada. Seu rosto é fotografado sem glamour, simples, mas ressaltando sua profunda expressividade no olhar, através de closes precisos. Trevor Howard, que sem dúvida não é um astro, está à altura e faz um companheiro crível neste romance. Também excelentes estão os personagens de Joyce Carey, Cyril Raymond, Everley Gregg and Stanley Holloway.




"Desencanto" (Brief Encounter)
1945 – INGLATERRA - 86 min. – Preto e Branco – ROMANCE
Direção: DAVID LEAN. Roteiro: NOEL COWARD, baseado na peça “STILL LIFE”, do autor. Fotografia: ROBERT KRASKER. Montagem: JACK HARRIS. Música: RACHMANINOFF. Produção: NOEL COWARD, distribuído pela PRESTIGE PICTURES, Inc.

Elenco:
CEILA JOHNSON (Laura Jesson) TREVOR HOWARD ( Dr. Alec Harvey), CYRIL RAYMOND (Fred Jesson), JOYCE CAREY (Garçonete), STANLEY HOLLOWAY (Guarda da Estação), VALENTINE DYALL (Stephan Lynn), EVERLEY GREGG (Dolly Messiter), MARGARET BARTON (Beryl) e DANNIS HARKIN (Stanley).



Cenas do Filme:


Assista também:



Lawrence da Arábia